Quem passou pela ponte da BR-040, na divisa entre João Pinheiro e Lagoa Grande, nas últimas horas, dificilmente resistiu à tentação de diminuir a velocidade ou até parar o carro no acostamento. A cena é magnética e desperta a memória afetiva do pinheirense: o Rio da Prata, majestoso, amanheceu com um volume de água impressionante, cobrindo bancos de areia e transformando a paisagem. O espetáculo natural logo tomou conta das redes sociais, com diversos vídeos compartilhados por moradores admirados com a força das águas.
A mudança repentina no cenário tem uma explicação inicial nos céus. Nas últimas 24 horas, o município recebeu uma carga d’água considerável, embora irregular. Enquanto quem vive na Avenida Dona Zica viu os pluviômetros marcarem 52mm, moradores de comunidades rurais como Andrequicé, Barreiro dos Veados e Tauá registraram volumes de até 70mm. Em pontos isolados, o acumulado chegou a bater a marca de 90mm. Mas, para quem conhece a fundo a hidrografia da região, a chuva local é apenas parte da história.
Segundo apurado pelo JP Agora, o que estamos vendo é um fenômeno hidráulico fascinante. Especialistas consultados pela reportagem explicaram que o Rio da Prata funciona como um “acumulador”. Por ser um rio de leito plano, o seu nível é ditado pelo seu irmão maior, o Rio Paracatu. A dinâmica funciona da seguinte forma: quando o Rio Paracatu sobe, ele cria uma barreira que impede o escoamento rápido do Rio da Prata, fazendo com que a água “volte” e se acumule, gerando a cheia que vemos na superfície.
O cenário para os próximos dias é de atenção e, provavelmente, de um espetáculo ainda maior. O Rio Paracatu ainda não atingiu seu pico de cheia, pois está recebendo agora as águas do Rio Preto e as chuvas recentes. Como ele continuará “segurando” a vazão, a tendência é que o represamento aumente, provocando uma subida ainda maior do nível das águas nos próximos dois ou três dias.
Enquanto a natureza segue seu curso, o Rio da Prata continua sendo o protagonista da semana, lembrando a todos da sua importância e beleza. O momento também serve de alerta para a preservação, já que o assoreamento visível nos períodos de seca ainda é uma ferida aberta que precisa de cuidados para que cenas grandiosas como a de hoje continuem existindo para as próximas gerações.
