Tecnologia 100% mineira, originária de conhecimento produzido nos laboratórios da Universidade Federal de Viçosa, (UFV), na Zona da Mata, está ganhando o mundo por meio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). No centro da parceria figura um sistema de produção sustentável de carvão vegetal, que já é utilizado em João Pinheiro.
O sistema de fornos-fornalha, criado por pesquisadores da UFV em atendimento a demandas do setor privado, foi lançado há 13 anos e está em sua oitava geração. Ele conta ainda com a parceria das universidades Federal de Minas Gerais (UFMG), no câmpus Montes Claros, no Norte do estado, e Federal de São João Del-Rei (UFSJ), no câmpus Sete Lagoas, Região Central de Minas.
Cássia, idealizadora do projeto, lembra a demanda de pesquisas de melhoramento genético na produção de carvão vegetal para reduzir a pressão sobre áreas de florestas nativas, e por tecnologias para melhorar a eficiência do processo e torná-lo mais limpo. Em 2008, procurado por empresas, o Departamento de Engenharia Florestal tinha como missão desenvolver um sistema mais sustentável, mas se viu diante de outro problema.
“Apenas 30% a 35% da madeira se transformam em carvão e o restante vira gases lançados no meio ambiente. Podem ser usados para várias aplicações, como aromatizantes de carne e herbicida, mas o mercado não está estabelecido. Devido à dificuldade da venda de um novo produto surgiu nosso projeto. O que mais poderíamos fazer com esse gás que sai com o resíduo da produção do carvão?”, relembra a pesquisadora.
A partir daí, nasceu a ideia de construir uma fornalha. Nela, os gases são direcionados para a câmara de combustão, gerando energia térmica. A energia derivada da queima pode ser usada para vários fins, entre eles, secagem da madeira.
Depois de criado o projeto, foram instaladas unidades demonstrativas em algumas regiões-polo para criação de multiplicadores da tecnologia mineira, ensinando produtores a construir e operar o sistema. Nos últimos cinco anos, cerca de 600 pessoas foram treinadas nas unidades de Lamim (Zona da Mata), João Pinheiro (Noroeste de Minas), da UFSJ, UFV e UFMG. No Brasil, há fornos-fornalha em estados como São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Espírito Santo.
No exterior, eles estão no Uruguai, Peru, Argentina e Nicarágua e em algumas regiões da África. Há demanda ainda nos Estados Unidos e na Índia. Um projeto com a França prevê a transferência de tecnologia a países da África. “Nosso trabalho permitiu que o conhecimento gerado dentro da universidade ganhasse espaço fora dos nossos quatro pilares, além de cumprir com o papel da extensão ao possibilitar que um projeto pudesse ser transferido à comunidade”, comemora Cássia.