Antério Mânica, condenado pela Chacina de Unaí, morre aos 77 anos sem cumprir pena em regime fechado

Ex-prefeito estava em prisão domiciliar por questões de saúde; vítimas e familiares lamentam impunidade após mais de 20 anos do crime

Morreu na madrugada desta quinta-feira, 15 de maio, aos 77 anos, Antério Mânica, condenado como um dos mandantes da Chacina de Unaí, crime que chocou o país em 2004. Desde novembro de 2023, ele cumpria prisão domiciliar, após decisão da Justiça que considerou seu frágil estado de saúde. A morte foi confirmada por pessoas próximas à família, mas o Hospital Sírio-Libanês, onde ele estava internado, não divulgou boletim oficial.

Antério sofreu uma queda, bateu a cabeça e passou por uma cirurgia de emergência. Desde então, estava em coma induzido, com estado de saúde grave.

A morte de Antério encerra um dos capítulos mais controversos da Justiça brasileira. Em 2023, a 1ª Turma do Tribunal Regional Federal da 6ª Região (TRF6) aumentou sua pena de 64 para 89 anos de prisão, mas ele nunca chegou a cumprir pena em regime fechado.

Ele e seu irmão, Norberto Mânica, foram condenados por serem os mandantes da chacina que vitimou quatro servidores do Ministério do Trabalho: os auditores Erastóstenes de Almeida Gonçalves, João Batista Soares Lage, Nelson José da Silva e o motorista Ailton Pereira de Oliveira. Eles foram mortos a tiros no dia 28 de janeiro de 2004, durante uma fiscalização em Unaí (MG), quando apuravam denúncias de trabalho análogo à escravidão em propriedades rurais da região.

Reações

A notícia da morte foi recebida com sentimentos mistos por familiares das vítimas e representantes do Ministério do Trabalho. O superintendente regional do Trabalho em Minas Gerais, Carlos Calazans, lamentou a morosidade da Justiça:  “Sou cristão e não estou feliz. Tenho convicção de que ele fez o que fez. A Justiça retardou muito isso. Os mandantes não pagaram pelo que fizeram e agora já estão no fim da vida. A morte dele me pegou de surpresa. Custou a fazer justiça e quando fez ele morreu.”

Helba Soares da Silva, companheira do auditor-fiscal Nelson José da Silva, uma das vítimas da chacina, também se manifestou: “O meu desejo é que ele tenha tido tempo de se arrepender, porque pena ele não cumpriu, né? Nossa justiça é muito lenta. Antério teve tempo de criar os filhos e conhecer os netos, o que foi privado de quatro pais de família.”

A Chacina de Unaí se tornou símbolo da impunidade e da luta por justiça no combate ao trabalho escravo no Brasil. A morte de Antério Mânica ocorre enquanto familiares e a sociedade ainda clamam por um desfecho que, para muitos, nunca chegou.

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