Em laudo emitido pela Polícia Civil, especialistas indicam a presença da substância dietilenoglicol na cerveja Belorizontina, da marca mineira Backer. A instituição confirmou que o laudo é autêntico e foi emitido nesta quinta-feira (9).
Conforme aponta o documento, em duas amostras de cerveja encaminhadas pela vigilância sanitária, foi identificada a presença da substância, em exames realizados preliminarmente. Ambas pertencem aos lotes L1 1348 e L2 1348.
A substância pode ter sido a causadora da “doença misteriosa” que, até agora, acometeu pelo menos oito pessoas em Belo Horizonte. Uma delas morreu.
O que é o dietilenoglicol?
O dietilenoglicol é uma substância anticongelante, de uso muito comum na indústria. Sua ingestão pode provocar intoxicação com sintomas como insuficiência renal e problemas neurológicos, de acordo com o médico infecnologista Carlos Starling.
“Em geral, esse produtos são usados, por exemplo, em congeladores, freezers, para limpeza. Se ingerido, ele pode, sim, provocar intoxicação”, afirma o médico.
Entretanto, de acordo com ele, o fato de haver a presença do produto no local não significa que seja a causa da intoxicação, porque ele é usado em várias atividades industriais. “Sei que é usado como anticongelante, em refrigeradores, para evitar congelamento”, diz o médico.
De acordo com o mestre cervejeiro Marco Falcone, é comum o uso do dietilenoglicol na indústria cervejeira, principalmente, no processo de resfriamento da bebida. No entanto, segundo ele, é pouco provável que tenha acontecido alguma contaminação, uma vez que a substância não entra em contato direto com o líquido durante o processo de fabricação.
“A fabricação da cerveja, o processo, é todo fechado. A Backer é uma empresa bastante consciente e responsável, dificilmente haveria alguma contaminação. A cerveja existe há mais de oito mil anos e nunca aconteceu alguma contaminação”, argumentou.
O que se sabe até agora
Até agora, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) confirmou que oito pessoas foram acometidas por doença cujos sintomas são de insuficiência renal e problemas neurológicos. Sete pessoas estão internadas, e uma morreu em decorrência da doença.
Trata-se do bancário Paschoal Demartini Filho, de 55 anos, que era morador de Ubá, na Zona da Mata. Ele chegou a ficar internado em Juiz de Fora, também na mesma região, e morreu na terça-feira (7). O corpo dele foi necropsiado pela Polícia Civil em Minas Gerais.
Segundo familiares, ele e um genro ingeriram a Belohorizontina no bairro Buritis, região Oeste, no fim de dezembro. Esse genro de 37 anos também está internado com a doença.
Inquérito
A Polícia Civil instaurou inquérito, nesta quinta-feira (9), para apurar as causas da “doença misteriosa”. Também nesta quinta, a instituição esteve na cervejaria para recolher amostras da bebida.
Leia a nota da cervejaria Backer
“Após entrevista coletiva nesta tarde, a Polícia Civil divulgou laudo informando que a substância dietilenoglicol foi identificada em duas amostras recolhidas da cerveja Belorizontina na casa de clientes, que vieram a desenvolver os sintomas. Vale ressaltar que essa substância não faz parte do processo de produção da cerveja Belorizontina, fabricada pela Cervejaria Backer.
Por precaução, os lotes em questão – L1 1348 e L2 1348 – citados pela Polícia Civil, e recolhidos na residência dos consumidores citados, serão retirados imediatamente de circulação, caso ainda haja algum remanescente no mercado. A Cervejaria Backer continua à disposição das autoridades para contribuir com a investigação e tem total interesse que as causas sejam apuradas, até a conclusão dos laudos e investigação.”