João Pinheiro, município no Noroeste de Minas, e Abílio Borges Moreira, pinheirense do Distrito de Santana dos Alegres, têm uma forte relação entre si. Ambos comemoram 111 anos de vida em 2022. E, por capricho do destino, quase na mesma data.
Na última sexta-feira (9), o ilustre e longevo cidadão festejou seu nascimento. Ao longo de mais de um século e uma década de história, Abílio teve 13 filhos, 84 netos, 165 bisnetos e 9 tataranetos. Além da família numerosa, incontáveis também são as memórias que construiu no decorrer da vida, que se confunde com a trajetória da cidade.
História
Embora a data oficial de emancipação de João Pinheiro seja 30 de agosto, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as festividades de aniversário do município tradicionalmente ocorrem no dia 10 de setembro, que é feriado. Com isso, desde 1911, Abílio presenciou todas as bodas da cidade, de onde nunca se mudou.
Quando mais jovem, trabalhou na zona rural, transportando gado entre as fazendas da região. Nessa época, se casou com Maria José de Camargo, de quem é viúvo há mais de 50 anos, naquele que foi seu único relacionamento matrimonial.
No ano passado, o Museu de Vozes de João Pinheiro entrevistou o senhor Abílio. Na oportunidade, ele contou diversos casos de sua vida, incluindo sobre sua lida com o gado, ofício que começou a desempenhar desde muito cedo.
“Eu comecei viajar eu tinha 15 anos, de Barretos para cá já andei isso tudo a cavalo tocando boiada. Nós éramos 10 peões fazendo as viagens. Tinha um burro carregado de mantimentos, o cargueiro ia na frente para fazer o almoço. Dormir a gente dormia no chão nos bacheiros”
Hoje, ele vive dias tranquilos na casa em que mora, no Centro de João Pinheiro. A filha Sebastiana, de 74 anos, é quem passa mais tempo nos cuidados dele, que gosta de passar as manhãs pegando sol na varanda do imóvel.
Com a idade avançada, o tempo deixou as marcas que dele são esperadas. Seu Abílio tem dificuldades para andar sozinho e escuta pouco. Mesmo assim, ainda aproveita o sabor de uma cerveja preta e do café, suas bebidas preferidas.
Memória viva
Acima de tudo, o que mais resistiu à passagem dos anos foi a memória de Abílio. Entre os fatos marcantes de que se lembra, está o pouso do primeiro avião a passar pela cidade, há mais de meio século.
Segundo um dos netos do pinheirense, Marcelo Moura, de 35 anos, muitos conterrâneos recorrem ao avô para buscar lembranças genealógicas.
“Sempre vão muitas pessoas lá na casa do meu avô pra saber a história dos familiares deles. Eles perguntam ‘o senhor conheceu o meu avô? Como que ele era?’. É muito legal participar disso, e ele tem a memória muito boa”, continua o neto.
Com tantas fatos para contar, a família diz se orgulhar em poder conviver com um representante ativo da história de João Pinheiro.
“Dá uma felicidade muito grande ao ver que alguém do meu sangue significa muito, não só para nós, mas para muitas pessoas. Ele é um guia para buscar sobre a história pinheirense”, finaliza Marcelo.